A Arte Vale Uma Vida


Por Hilquias Scárdua

Conscientes da debilidade cultural que persiste em nosso meio, observamos a produção cultural em declínio, sofrendo as maiores mazelas e banalizações em nossas instituições. A percepção superficial sobre a cultura regional e as tradições conduz a um retrato desfocado de nossos valores.

Como artista, tenho explorado diversas vertentes artísticas, desde a música, escrita, até o processo criativo pictórico. Nessa jornada, intrínseca à existência, não me vi como parte, mas como todo o processo – a estética que traça início, meio e fim sem perder a conexão e identidade. O processo criativo, ao longo da história, é uma jornada rica e multifacetada, que permeia cada aspecto da vida do artista.

Em 2012, tive o privilégio de responder a uma proposta do Itaú Cultural, que lançava a seguinte pergunta: Qual o Valor da Obra de Arte? Em minha resposta, pela qual recebi o prêmio de 1º lugar, expressei de forma simplificada e quase exatamente o seguinte:

"A arte vale uma vida, pois serve ao artista em seu processo criativo como parte inerente dele mesmo. Em um processo orgânico, a obra se torna uma extensão do próprio artista, uma parte dele sendo oferecida e difundida. A obra não é alheia à personalidade nem ao próprio artista; independente da técnica utilizada ou do domínio sobre ela, a obra representa o próprio artista, sendo ele mesmo a própria obra”.

Essa percepção abre caminho para uma reflexão ainda mais profunda sobre o nosso entendimento da Arte Real e dos propósitos que imputam às Instituições Sagradas e às Escolas de Mistérios.

A arte esotérica molda a capacidade do indivíduo, elevando seu potencial, colocando-o em igual condição ao artista, onde toda obra, todos os feitos, servem a um propósito maior, onde a Arte Real se revela na Grande Obra.


Para entender melhor essa condição, basta nos colocarmos na posição do presente, como obreiros e obras ao mesmo tempo. O Obreiro da Arte Real é a própria Grande Obra; tudo o que é feito, manifestado por ele, representa em totalidade a sua extensão. Desde as atitudes até as falas, projetos, gestos, etc., tudo se exemplifica na construção do meio. Isso pode parecer utópico e impossível de ser realizado quando comparado ao ideal da perfeição; contudo, não se trata da obra perfeita, mas sim da completa entrega, de estar por inteiro no que se faz.

Como já ensaiava o pensador Victor Hugo: “Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã.”

O Ideal da Ordem nos parece um sonho distante, assim como a obra para o artista, aquela que ainda não saiu do campo das ideias, parece um ensaio utópico, incomum, improvável; até que se manifeste. Independente de como se mostra, se revela de maneira completa mesmo com suas imperfeições.

Somos assim, incompletos, imperfeitos; mas, imprimimos nossa parcela a cada feito, nossa totalidade que nos permitiu o momento. E sobre esse juízo, que evocamos as virtudes e qualidades adquiridas para fazemos o melhor possível dentro de tudo que buscamos realizar. Pois o que realizamos nos representa, é parte de nós, é mesmo aquilo que somos, extensão do nosso espírito, esse incitativo realizado em cada ser que se mostra.



E como o mesmo juízo nos colocamos diante das Instituições às quais pertencemos, ao meio em que vivemos, os compromissos e juramentos não estão alheios ao papel do obreiro. Por mais que pareça algo rígido, inflexível e distante da realidade, esse convite à reflexão nos posiciona em outro lugar – consegue perceber? Somos capazes de oferecer mais e de irmos além quando compreendemos o mínimo que aqui é apresentado.

E para aqueles que desejam explorar mais profundamente essa reflexão e atribuir a seus feitos tais profundidades, o elogio à obra é garantido. Para aqueles que possam considerar esse elogio como o caminho para o palco, a plateia e os troféus e medalhas, enganam-se. O mundo vibra, o espírito vibra e silenciosamente a humanidade agradece.




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