Meu
campo de estudo muitas vezes se transforma em um espaço social comum, mas
outras vezes adentro um ambiente permeado por pseudo intelectuais ou até mesmo
um triste espetáculo de fanfarrões que se prolonga pela noite adentro.
Refiro-me ao laboratório da linguagem e da comunicação, à análise do tecido
social que compõe a sociedade em suas diferentes camadas, frequentemente
ilusórias, seja por questões econômicas ou culturais.
Nesse
contexto, me vejo subindo e descendo a Torre de Babel, em uma metáfora que
evoca a confusão e a falta de entendimento mútuo. As relações humanas tornam-se
cada vez mais frágeis e as comunicações, de forma descontrolada, ultrapassam os
limites da banalidade, tornando difícil a abordagem de questões elevadas e
contextos sérios que poderiam contribuir para o desenvolvimento individual e
coletivo.
Cada
indivíduo habita seu próprio universo de ilusões e percepções, onde tudo o que
é dito é distorcido e interpretado de maneira diferente. A capacidade de
compreensão é superficial e muitas vezes meramente visual; no entanto,
faltam-nos as condições para navegar em entendimentos mais profundos, pois as
conexões essenciais estão perdidas. Resta-nos, então, a tarefa de compreender o
que está acontecendo e, na linguagem do amor, comunicar. É precisamente nesse
ponto que os convido a refletir comigo.
Retornemos
nosso olhar e nossa atenção para a banalização da linguagem e da informação,
onde tudo é permitido e transmitido de qualquer maneira, mas consumido e
absorvido da mesma forma. As redes sociais e outros meios de comunicação
degradam a qualidade do conhecimento, colocando em prova a frágil condição
evolutiva da sociedade. Sob a máscara da evolução e da liberdade, a insanidade
ganha destaque, criando um ambiente propício para que o cômico se sobreponha e
vulgarize qualquer tentativa de percepção sensata sobre os fatos.
Mesmo
ao adotar uma visão superficial dos acontecimentos e da informação, é possível
perceber a gravidade do que estamos enfrentando. Dentro das instituições, onde
a Maçonaria se insere, vemos a Torre de Babel erguida, apesar de todo o
simbolismo e alegoria de uma linguagem rica e virtuosa. A vontade profana e a
ignorância vil prevalecem em um papel político audacioso e maquiavélico.
A
Ordem, no sentido mais amplo da palavra, encontra-se em meio ao caos, em um
paradoxo favorável à condição das mazelas humanas mais animalescas. É crucial
perceber a vulnerabilidade de tudo o que está em jogo socialmente; quando não
conseguimos expressar com virtude no presente que nos assiste, não
testemunharemos a manifestação da identidade do amor e o desenvolvimento da
Arquitetura Divina, decerto que veremos as piores possibilidades da realidade
se manifestar diante de nós.
Ao
recordar, Evelyn Beatrice Hall, na biografia sobre o filósofo Voltaire e sua
frase - "Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a
morte o seu direito de dizê-lo" - vejo a necessidade de enfrentar com amor
todo desafio proposto pela linguagem, pois é somente com amor que seremos
capazes de compreender o direito de expressar o entendimento, mesmo sabendo que
Voltaire não se referia a qualquer disparates gratuitos dos posts e pautas
superficiais.
Retornamos
à condição de espectador do campo volúvel da comunicação, um complexo contexto
que nunca encontraremos na relatividade. Pois se propormos que tudo que falamos
é relativo, não conseguiremos chegar a lugar algum; o lugar mais tangível das
palavras está na conexão que estabelecemos, seja qual for.
Entretanto,
diante da cacofonia da desinformação e da superficialidade, surge a tentação do
silêncio. Porém, neste silêncio, há uma oportunidade de reflexão profunda, uma
pausa para reavaliar nossos próprios pensamentos e buscar a clareza interior. O
silêncio não precisa ser um sinal de rendição, mas sim uma estratégia
consciente de preservação e discernimento. É um ato de resistência contra a
torrente de informações superficiais e uma escolha deliberada de se comunicar
de forma mais significativa quando necessário.
O
melhor lugar para se comunicar é, antes de mais nada, no seio do amor
incondicional ao próximo, colocando-nos diante do espelho. Amando o outro,
amaremos o presente, a condição do presente que nos oferta o interior dos
outros em palavras, ou mesmo na comunicação não verbal deixada na efêmera
passagem que por aqui fazemos.
Nessa
condição, o silêncio pode ser uma resposta poderosa, mas não a única. Ele
coexiste com a comunicação autêntica e o diálogo significativo, formando um
equilíbrio entre a reflexão íntima e a expressão externa. Assim, cada palavra,
quando pronunciada ou mantida em silêncio, carrega consigo o peso da intenção e
o potencial de conexão genuína.
Com
base na reflexão que se estende, a metalinguagem implícita também é vista como
um caminho possível da não rendição, de quebrar o silêncio e, com o peito
aberto, continuar se comunicando.
Vitória,
27 de abril de 2024.
Hilquias
Scardua
Cavaleiro Rosa-Cruz
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