A Atual Condição da Comunicação: Reflexões na Era da Desinformação


Por Hilquias Scardua

Meu campo de estudo muitas vezes se transforma em um espaço social comum, mas outras vezes adentro um ambiente permeado por pseudo intelectuais ou até mesmo um triste espetáculo de fanfarrões que se prolonga pela noite adentro. Refiro-me ao laboratório da linguagem e da comunicação, à análise do tecido social que compõe a sociedade em suas diferentes camadas, frequentemente ilusórias, seja por questões econômicas ou culturais.

Nesse contexto, me vejo subindo e descendo a Torre de Babel, em uma metáfora que evoca a confusão e a falta de entendimento mútuo. As relações humanas tornam-se cada vez mais frágeis e as comunicações, de forma descontrolada, ultrapassam os limites da banalidade, tornando difícil a abordagem de questões elevadas e contextos sérios que poderiam contribuir para o desenvolvimento individual e coletivo.

Cada indivíduo habita seu próprio universo de ilusões e percepções, onde tudo o que é dito é distorcido e interpretado de maneira diferente. A capacidade de compreensão é superficial e muitas vezes meramente visual; no entanto, faltam-nos as condições para navegar em entendimentos mais profundos, pois as conexões essenciais estão perdidas. Resta-nos, então, a tarefa de compreender o que está acontecendo e, na linguagem do amor, comunicar. É precisamente nesse ponto que os convido a refletir comigo.

Retornemos nosso olhar e nossa atenção para a banalização da linguagem e da informação, onde tudo é permitido e transmitido de qualquer maneira, mas consumido e absorvido da mesma forma. As redes sociais e outros meios de comunicação degradam a qualidade do conhecimento, colocando em prova a frágil condição evolutiva da sociedade. Sob a máscara da evolução e da liberdade, a insanidade ganha destaque, criando um ambiente propício para que o cômico se sobreponha e vulgarize qualquer tentativa de percepção sensata sobre os fatos.

Mesmo ao adotar uma visão superficial dos acontecimentos e da informação, é possível perceber a gravidade do que estamos enfrentando. Dentro das instituições, onde a Maçonaria se insere, vemos a Torre de Babel erguida, apesar de todo o simbolismo e alegoria de uma linguagem rica e virtuosa. A vontade profana e a ignorância vil prevalecem em um papel político audacioso e maquiavélico.

A Ordem, no sentido mais amplo da palavra, encontra-se em meio ao caos, em um paradoxo favorável à condição das mazelas humanas mais animalescas. É crucial perceber a vulnerabilidade de tudo o que está em jogo socialmente; quando não conseguimos expressar com virtude no presente que nos assiste, não testemunharemos a manifestação da identidade do amor e o desenvolvimento da Arquitetura Divina, decerto que veremos as piores possibilidades da realidade se manifestar diante de nós.

Ao recordar, Evelyn Beatrice Hall, na biografia sobre o filósofo Voltaire e sua frase - "Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo" - vejo a necessidade de enfrentar com amor todo desafio proposto pela linguagem, pois é somente com amor que seremos capazes de compreender o direito de expressar o entendimento, mesmo sabendo que Voltaire não se referia a qualquer disparates gratuitos dos posts e pautas superficiais.

Retornamos à condição de espectador do campo volúvel da comunicação, um complexo contexto que nunca encontraremos na relatividade. Pois se propormos que tudo que falamos é relativo, não conseguiremos chegar a lugar algum; o lugar mais tangível das palavras está na conexão que estabelecemos, seja qual for.

Entretanto, diante da cacofonia da desinformação e da superficialidade, surge a tentação do silêncio. Porém, neste silêncio, há uma oportunidade de reflexão profunda, uma pausa para reavaliar nossos próprios pensamentos e buscar a clareza interior. O silêncio não precisa ser um sinal de rendição, mas sim uma estratégia consciente de preservação e discernimento. É um ato de resistência contra a torrente de informações superficiais e uma escolha deliberada de se comunicar de forma mais significativa quando necessário.

O melhor lugar para se comunicar é, antes de mais nada, no seio do amor incondicional ao próximo, colocando-nos diante do espelho. Amando o outro, amaremos o presente, a condição do presente que nos oferta o interior dos outros em palavras, ou mesmo na comunicação não verbal deixada na efêmera passagem que por aqui fazemos.

Nessa condição, o silêncio pode ser uma resposta poderosa, mas não a única. Ele coexiste com a comunicação autêntica e o diálogo significativo, formando um equilíbrio entre a reflexão íntima e a expressão externa. Assim, cada palavra, quando pronunciada ou mantida em silêncio, carrega consigo o peso da intenção e o potencial de conexão genuína.

 

Com base na reflexão que se estende, a metalinguagem implícita também é vista como um caminho possível da não rendição, de quebrar o silêncio e, com o peito aberto, continuar se comunicando.

 

Vitória, 27 de abril de 2024.

 

Hilquias Scardua

Cavaleiro Rosa-Cruz 

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